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23/09/2012
O ATUAL ESTÁGIO DA CRÍTICA DE CINEMA
A partir das proposições conceituais de Paulo Emilio Salles Gomes, o papel e o alcance da atual crítica de cinema na imprensa e a internet como suporte para a reflexão do fazer fílmico foram debatidos justamente por quem tem experiência e propriedade no ofício: Fábio Andrade, editor da Revista Cinética, e Sérgio Rizzo, professor universitário e colaborador de diversos veículos e revistas especializadas. Em um ambiente descontraído e informal e com a moderação do crítico João Sampaio, a atualidade do pensamento de Paulo Emilio foi apresentada como uma tentativa que, embora errática e não corriqueira, ainda persiste na leitura e compreensão do cinema para além dos próprios filmes.
Em sua fala, Fábio Andrade apontou que “Paulo Emilio lançou uma espécie de pedagogia ao ensinar o leitor a olhar e a pensar os filmes. Crítica é essencialmente juízo, noção contida no próprio radical grego krimein. Sem dúvida, o mestre defendia o crítico como ferramenta fundamental dessa pedagogia”. Segundo avalia, “a internet permite uma agilidade de retorno, na qual naturalmente nos implicamos no processo, e esse diálogo entre a produção e a escrita pode ampliar-se a esferas inimagináveis”. Para o crítico, “infelizmente desaprendemos a franqueza, o brilhantismo e a ideia da imaginação com complemento da crítica – lições essenciais de Paulo Emilio”.
Ao comentar a presença de Paulo Emilio na crítica contemporânea, o especialista Sérgio Rizzo recorreu a Ítalo Calvino e à sua célebre afirmação associada à leitura dos clássicos, como “aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível”. De acordo com o jornalista, “o grande ensaísta também persiste como um rumor”.
Rizzo caracteriza a internet como um território demasiadamente vasto e diversificado, “de difícil mensuração e controle”, complementando que qualquer generalização é arriscada: “não se deve falar genericamente da crítica, já que os críticos são muito distintos entre si, seja pela faixa etária seja por região ou processos de formação”. Reconhece, porém, que a crítica está sofrendo uma perda progressiva de estado, especialmente nos espaços tradicionais reservados a esse tipo de análise, como suplementos de jornais de grande circulação. “Não há mais crítica regular e sistemática”, disse.
“O grande problema costuma vir da orientação editorial, que vê o crítico como um mero orientador de consumo – daí as estrelinhas e bonequinhos de avaliação nos cadernos de cultura”. Rizzo se valeu ainda de outra citação para ilustrar como compreende a missão do crítico na atualidade: o polonês Zygmunt Baumann e suas formulações sobre o papel dos intelectuais na modernidade. O livro Legisladores e intérpretes expõe que os intelectuais podem ser vistos de diversas formas tanto na modernidade quanto na pós-modernidade. Segundo Sérgio, Paulo Emílio estaria alinhado com os “intérpretes”, já que estes intelectuais – diferentemente dos “legisladores”, que se portam como “árbitros de feição autoritária” – não mais se orientam no sentido de escolher a melhor ordem social, política, artística, mas para a promoção do conhecimento como um todo.
Por fim, Rizzo propôs alguns eixos de reflexão e de posicionamento ao corpo crítico atuante no Brasil: a necessidade de se organizar politicamente, a exemplo do que possibilita a Abraccine; a representação nas esferas políticas e espaços decisórios; além de uma presença mais significativa e constante nas instâncias de ensino informal e formal. “A crítica tem de assumir sua missão reflexiva, formadora e provocadora, constituir, de fato, um convite incessante ao diálogo”, complementa.
Texto: Luciana Barreto - OBJETO SIM
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